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domingo, setembro 28, 2003

Update #2


Acabei de adicionar um sistema de envio de e-mails automático ao blog. Se lerem este blog, se tiverem alguma coisa a dizer não hesitem em enviar um comentário.


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música: Porcupine Tree - Strip The Soul
pensamento: mais uma voz?

Æmitis :: 04:09 :::

sexta-feira, setembro 26, 2003

O Homem A Quem Os Cães Ladravam


Houve, nesses fios de tempo e rotina que por vezes se quebram, um homem que vagueava entre as vidas de todos os outros. Não se sabia que sombra era a dele. Raras eram as pessoas cujo o seu olhar se prendia na sua forma. Tinha uma presença tão etérea que começou a acreditar profundamente que não existia. Se todo o mundo não notava o seu odor, a sua aparência, o seu tom, então seria porque a sua existência era um lapso, uma falha que o mundo estranhamente tinha permitido existir. Com o passar dos dias, das horas e dos passos, o olhar deste homem foi perdendo o brilho. A sua memória era incapaz de recordar as últimas lágrimas alguma vez vertidas. Mas os momentos de dor e solidão, esses eram constantemente invocados pela mente traidora. Porém a sua aparição neste mundo não era completamente ignorada. Com excepção do comerciante da esquina de sua casa, com quem falava por telefone somente para fazer as compras necessárias, havia um fenómeno que colocavam a sua inexistência em causa: os cães. Sempre que se cruzava com um destes animais domesticados o seu coração acelerava e o seu corpo tremia descontroladamente. Não havia um único destes seres que não ladrava na sua presença. Todos eles pressentiam a sua chegada, permanência e partida. Embora nem sempre fixassem o seu olhar nele, os cães da rua conheciam-no como ninguém. Como ninguém. Esta incerteza, esta dúvida torturavam-no persistentemente, como uma dor crónica e hereditária.
No seu mundo de solidão dedicara-se ao pensamento abstracto, à leitura e à meditação. E assim, em cada pulsar mental, aumentava a sua frustração de incompreensão.
Todos os livros estavam lidos. Todas as ideias saturadas até à sua rejeição. Os anos, os meses continuavam a passar. Ninguém o via como os cães. Ninguém o via. O ponto de ruptura chegou naturalmente, como o nascer do sol depois do manto de lua... A corda tocava-lhe o pescoço como um língua àspera e seca. Este seria o seu último passo. Era só mais um passo que ninguém viria. A corda do comerciante da esquina estava cirurgicamente presa do tecto, a hipótese de erro era intolerável. A sua sala engolida na escuridão, abraçava-o docemente. O relógio contava os segundos mas não tinha importância alguma. As décadas, os anos estavam no seu fim.
Um passo.
Um som abafado da corda que não cede.
O corpo rendeu-se à gravidade.
O ar era rejeitado...odiado até.
Num último olhar, fugido da face que escurecia, fixou-se no espelho quebrado que pintava o chão. Algo de estranho acontecia. O reflexo do espelho era somente da sala e da corda oscilante.
Não era a sua existência que escapava aos outros olhos, às outras almas, mas sim a sua imagem... somente a sua imagem...
O sossego no seu interior era religioso... O mistério pessoal, o fantasma de tantas noites tinha sido revelado e libertado.
Suspenso e livre!
Soltou-se uma lágrima...


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música: The Blueprint - Hail Of Splinters
pensamento: alguém me vê? eu vejo.

Æmitis :: 23:14 :::

quarta-feira, setembro 24, 2003

À Deriva


Se rasgo o olhar é porque quero. Se danço enquanto sangro é porque posso. Nunca nada tocou o ar como eu o toco. Nunca ninguém sentiu o mar como eu o sinto, aqui, neste barco de pele e luz. Se a maré não me leva ao porto dos acordados, então ficarei perdido neste sonho. A lua tornou-se uma fiél amiga. E o vento é respiração ausente, como aquele doce momento que só se sente e não se vê. Na ondulação onírica que acompanha o batimento abafado, não há som que se revele mais nítido que o sussurro do sangue que desliza em mim.
E nunca ninguém se sentiu assim.
Nem eu...


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música: Sigur Rós - Fyrsta
pensamento: se eu algum dia não acordar, será que o saberei?

Æmitis :: 01:18 :::

terça-feira, setembro 23, 2003

Memória Recorrente


Lembro-me de ver uns desenhos animados onde uma das personagens passou todo o episódio a tentar entrar para dentro do seu próprio umbigo. A minha inocência e imaturidade levaram-me a considerar aquele acto como uma simples insanidade "cartoonesca" como tantas outras e sem qualquer significado senão o de criar o absurdo, o ridículo e assim divertir. Hoje, depois de percorridos alguns passos na linha do tempo, aquela imagem de uma infância de olhar fixo no ecrã provoca-me uma torrente de pensamentos e assume um significado mais profundo e relevante que o de uma simples gargalhada. Ingénuamente não conseguira notar a força que tem a imagem de alguém a quere penetrar no seu próprio umbigo, a vontade desesperada de regressar ao útero, à caverna segura e intransponível onde o desconhecimento de tudo era o contacto com a paz, a tranquilidade e sossego do não saber que se é e se pode ser. O silêncio morre com o nascimento. O choro de um novo ser é o grito da morte. Há uma Pessoa que descobriu que esta dualidade vida/morte está invertida na nossa percepção ignorante e arrogante... nunca o absurdo se tornou tão claro e racional.
E assim, com este aparentemente inocente resto de infância a minha espiral de reflexão avançou mais um pouco. Espero que pelas suas paredes consiga absorver o que me irá fazer mover...viver...


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música: Neurosis - Crawl Back In
pensamento: se pudesse escolher nascer de novo, será que o faria?

Æmitis :: 01:30 :::

domingo, setembro 21, 2003

Teoria Da Conspiração #1


Todos nós sabemos como a pequena "caixa mágica" assume nos dias de hoje um sem número de funções, umas mais ou menos perversas, ou mais ou menos úteis. Este conjunto engenhamente montado de fios de cobre, plástico e outros materiais pode ser um veículo de informação, entertenimento, prazer, estupidificação, manipulação e mais recentemente de interacção. Pois bem, isto já todos nós sabemos. Mas eu descobri, e não terei a presunção de considerar como algo único ou inédito, que a televisão tem uma profunda e perversa função de meio conspirador.
Considerando que o objectivo final de qualquer conspiração é o de ser descoberta e entendida, para o seu criador ver o seu engenho reconhecido, é então que exponho aqui a minha teoria da conspiração que tão claramente escorre pelo ecrã dos nossos quatro televisores per capita e que poucos ou nenhuns, pelo menos considerados em posse das suas capacidades racionais (o que me exclui óbviamente), conseguem constatar. Comecemos:
Que os senhores que trabalham em publicidade são pequenos duendes comandados pessoalmente por Satanás ninguém contesta. Pois só mesmo vindo do "sul" desta crosta terrestre é que alguém nos consegue fazer comprar pequenos quadrados de plástico para fazer pequenos canapés para a festa de aniversário do filho que não temos, ou acreditar que é realmente uma gota de detergente que lava milhares de pratos. É então que a publicidade, elevando-se assim a um verdadeiro fenómeno digno de "aviso do final do mundo" encobre uma das mais subversivas e alarmantes realidades do tempo presente: somos dominados por extraterrestres maléficos que já controlam importantes sectores da vida como hoje a conhecemos. Como cheguei a esta conclusão? Simples. Para além de observar a "gritante" realidade em que vivemos, e se procurarem com atenção verão que os sinais de que algo não está certo são evidentes, constatei um pormenor, que por associação a outros factores, me permitiram chegar a esta avassaladora conclusão. A chave deste mistério reside na publicidade em si, para ser mais específico, em determinados anúncios aparentemente inocentes. Durante anos fomos "bombardeados" com anúncios a pensos higiénicos e fraldas (tanto para o neto como para a avó) em que o suposto liquído expelido, ou pela fêmea durante a sua desovulação ou pelo infante durante o seu alívio molhado, tem uma côr completamente afastada da realidade: ou um azul cristalino e límpido ou um verde marinho. Que mais será preciso dizer? Que outra mente, se não de um ser de outro planeta, iria confundir urina ou sangue com coágulos e outras matérias menstruais com a água de uma sanita protegida por WC Pato! Foi um erro de observação por parte dos nossos inimigos externos que quase comprometeu o seu plano de se infiltrarem gradualmente entre nós. A eleição do Bush também foi um sinal demasiado evidente, mas este já foi na parte irreversível do processo. Mas a realidade é esta e mesmo sabendo do erro que tinham cometido, estes anúncios permaneceram e permanecem no ar, para gozo e satisfação sádica destes seres demoníacos, que insistentemente pensam: "Mijo azul!! HAHAHAHA!!"
Mas ainda existe uma esperança para a raça humana. Posso desde já avançar, com base em fontes nada seguras, que a WC Pato, essa nobre instituição que desde o início conseguiu desmascarar este plano, embora ignorados por todo o mundo, está neste preciso momento a criar um componente químico que irá ser adicionado aos seus ambientadores que será letal para qualquer extraterrestre através de uma simples descarga apenas.
Este e outros casos encontrarão neste espaço uma voz insana de alerta e alarme!


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música: A Perfect Circle - Gravity
pensamento: hoje mordi tantas vezes o lábio que apetecia-me comer a minha cabeça à dentada.

Æmitis :: 02:30 :::

sábado, setembro 20, 2003

Os dias passaram por este blog como areia que foge em mãos abertas. 10 dias desde a última palavra estranha. De volta à cave onde, refugiado, me escondo deles. Sim! Eles andam aí e todos o sabem mas ninguém se atreve a ver. E a conspiração é a mais bela das armas. Await further news...

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música: A Perfect Circle - Blue
pensamento: the end is near

Æmitis :: 22:38 ::: (0) Apêndice-[s]

quarta-feira, setembro 10, 2003

C...C...C...C...C...Cocaine


Há, nas terras do Uncle Sam, algumas lendas urbanas que me despertaram atenção e que têm tanto de surreal como de interessante. Uma delas, sendo a que mais me interessou, tem como base a teoria de que, se analisadas, a maioria das notas de dólares americanos em circulação teriam vestígios de cocaína. Para as mentes inocentes ou desatentas, as notas teriam vestígios ou por serem ultilizadas como "instrumento" de inalação da substância ou por terem estado em contacto com a mesma de outra qualquer forma, como por exemplo, espalhadas numa mesa de separação onde estivesse também presente a dita cocaína. Sendo impossível determinar a quantidade de moeda-papel em circulção pelas ruas das cidades americanas, esta lenda torna-se de díficil crença, acreditando como eu que nem todos consomem a substância ou que pelo menos tenham cuidado com o dinheiro que possuem. Mas o facto é que esta lenda é verdadeira. Foram retiradas de uma caixa multibanco cinco notas de vinte dólares e enviadas para laboratório. Depois de testadas e analisadas, quatro das cinco notas tinham de facto vestigios de cocaína. Embora os vestigios fossem microscópicos, ou seja, para bem dos cidadãos americanos, impossivel de serem acusados de posse de cocaína, a verdade é que em alguma situação, em algum momento estas notas tinham estado em contacto com o famoso pó. Não consegui deixar de me sentir profundamente intrigado com este facto, ou que conclusões tirar desta lenda que se revela verídica... Mas se analisassem os nossos euros? Será que encontrariam vestígios de alguma substância estranha ou até mesmo proibida?


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música: Lotus Eaters - Track 04
pensamento: nicotinevaliumvicadinmarijuanaecstasyandalcohol

Æmitis :: 02:51 :::

terça-feira, setembro 09, 2003

Retorno


As ondas rebentavam com mansidão. Calmas e contínuas, como a pulsação de quem dorme um longo e desejado sono. Era um fim de tarde sem muita luz e o céu pintou-se de cores emprestadas à terra. No chão, a areia tinha um branco de leite. E aquele buraco, feito pelas mãos virgens de um qualquer aventureiro, tinha um tom mais escuro e intrigante. O meu olhar ficou retido neste estranho elemento. Aproximei-me. Mais cores se revelaram aos meus olhos. O que fora à distância de alguns metros uma mancha cinzenta na imensidão pálida era agora uma palette de sonhador. Impossível de distinguir exactamente que cores, que tons, que texturas nele estavam contidas; ousei entrar. Súbitamente, o chão não era chão, o fundo não era fundo e a gravidade era deusa. O meu corpo caía descontroladamente e a minha mente não a acompanhava. Estava distanciado de mim próprio. Via-me cair mas não me sentia. Não sentia a vertigem nem o ar a roçar-se na minha pele. Não sentia. O tempo, o espaço, tudo se contorceu e se retorceu, misturando-se e fluindo sobre si, ao longo de mim e fora de mim. As paredes, que eram agora todo o meu universo, passavam a uma velocidade fumegante, mas incompreensivelmente, eu assimilava todos os seus pormenores. A textura rugosa e áspera do pequeno granito, ou o negro liso e polido pelo mar do basalto. Todos os detalhes, os pequenos traços deste meu envolvente passageiro estavam plenamente presentes em mim. Eu sentia o respirar da terra. O cheiro do mar penetrante. Ouvia, sem um só som ecoar no exterior, um gemido gélido e doloroso de uma fonte longínqua. Ouvia-o intensamente. Até que este som harmonioso e docemente desconhecido se tornou toda a minha realidade. A intensidade aumentava proporcionalmente ao meu esforço de compreender a sua origem, a sua mensagem. Atingiu tal força que uma linha vermelha líquida percorreu o meu pescoço. O corpo caía. A mente ruía. E nenhuma saída se encontrava próxima, nenhum fim, nenhum... depois o silêncio. doloroso. estava de volta à praia. o sol estava já esquecido. o mar tocava-me os pés descalços, como o resto do meu corpo. silêncio. doloroso. o buraco infinito não era. no chão apenas dois pequenos círculos deformados de cor escarlate. eram sangue. era meu. silêncio. doloroso. como uma forte pancada invisíel retomei o contacto com o meu corpo. caminhei em direcção incerta. para o mar. o horizonte chamava-me. sem voz. sem som. só vibração. silêncio. doloroso. a água era quente. sentia-me confortável neste regresso a fluído umbilical. silêncio. apenas silêncio.


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música: Svartsinn - The Obvious Faces
pensamento: "cleanse and purge me in the water"

Æmitis :: 03:52 :::

quinta-feira, setembro 04, 2003

Correcção Ao Mundo


Os fantasmas existem. Acreditem. Estes não são almas do outro mundo ou aparições translúcidas. São pessoas reais. Porém, algo os distingue de todos os outros: os olhos. Os olhos destas pessoas são vazios, baços, frios. Como se a alma, o espirito ou qualquer que seja a designação para aquele elemento que nos torna vivos, tivesse desaparecido.
Quantas vezes não vimos aquele homem de idade, num banco isolado do metro ou na fila da padaria, de expressão nula, como um cadáver. A roupa enrugada e um odor que inquieta apesar de não ser desagradável. Ou aquele executivo de fato e gravata cinzenta, com a barba por fazer e o olhar perdido na banca de jornais ou à espera que o semáforo lhe dê forças para se mover. Os fantasmas existem. Acreditem. A jovem adolescente que não se parece com mais ninguém, que respira sem saber porquê e tem o abuso cravado, desde o inicio da sua vida, no interior das suas pernas. Antes de viver foi morta, por aqueles que a deviam criar, que a protegiam... mas ninguém a protegeu de eles. Ou a mãe que perde o único filho, que nascera inesperadamente quando todas as probabilidades lhe diziam que já era tarde demais, num acidente estúpido envolvendo um homem embriagado, muito aço e combustível. Estúpido como a própria morte em si. Os fantasmas existem. Acreditem. E estas pessoas de olhos drenados, não sabem o que são. Não sentem o vazio pois simplesmente já não sentem. Não é a morte que faz fantasmas, como todo o mundo iludido pensa. É a vida. Na sua brutal, inevitável e bela natureza.


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música: Neurosis - To Crawl Under One's Skin
pensamento: insónia

Æmitis :: 03:17 :::

quarta-feira, setembro 03, 2003

Reflexo Sem Espelho


Num destes dias chuvosos, de um Verão que não se esquece, aconteceu algo verdadeiramente extraordinário, algo que lido, visto e até audazmente imaginado pode reflectir uma imagem surreal e até de uma qualquer patologia mental. O dia, como disse, era de chuva. As ruas estavam molhadas e aparentemente limpas, como se o céu tivesse descido para arrumar a cidade. No chão, o cinzento das nuvens misturava-se com o negro do alcatrão e nos passeios as pedras respiravam de alívio.
Absorvido por este ambiente, encontrava-me parado no meio da rua deserta. Deserta para mim, pois naquele momento tudo desapareceu e apenas a minha pulsação marcava o ritmo do mundo. Diante de mim, caído no chão como um pedaço de papel indesejado, estava o meu olho direito. Não podia ser real o que estava a acontecer naquele momento. Era impossí­vel que tal acontecesse de forma tão natural. O meu olho direito tinha-se soltado da minha órbita, desprendido-se do meu corpo, assim como a folha seca se solta dos ramos cansados. Apressei-me a pegar nele para que não se danificasse, para senti-lo como algo corpóreo. Neste momento tinha duas percepções visuais diferentes, pois continuava a receber a informação do meu olho caí­do. Isto provocou-me uma enorme tontura e o meu balanço oscilou. Podia neste momento ver o meu olho e ver-me a olhar para o meu olho. O esforço mental para captar esta nova forma de percepção era enorme e a juntar-se à tontura emergiu uma aguda dor. Tentei colocar o olho de volta na órbita, com imenso esforço, mas este não se fixava no espaço agora vazio. Senti o pânico a crescer. Não sei se estava realmente assustado por ter perdido uma vista ou pela surrealidade e incompreensão de todo o acontecimento.
Segurei o olho a nível da minha órbita direita para assim conseguir mover-me minimamente. Segui até casa, entrei no meu quarto, sentei-me na cama a pousei o olho na mesa que estava na minha frente. Fechei o olho esquerdo... respirei prfundamente... e pela primeira vez consegui olhar para mim próprio. Verdadeiramente olhar para mim próprio. Não apenas um reflexo ou uma imagem num qualquer papel ou ecrã. Era a minha aparição real, com textura, cor e movimento. Aproximei-me para poder ver-me mais perto. Estava absorvido naquela experiência... Acho que permaneci assim durante dias, examinando cuidadosamente todos os traços, todas as linhas do meu corpo. Finalmente conhecia-me. Aquele pavor silenciado do desconhecimento de mim prório, que habitava no profundo fundo de mim, desvaneceu... eu conheci-me.
No dia seguinte a chuva tinha cessado. As nuvens estavam mais leves e o ar mais solto. Sentia-se no ar um suave aroma a rochas húmidas de um riacho isolado. O meu olho tinha regressado. Em mim algo havia mudado... os tons haviam ficado melhor definidos... a pulsação ecoava como música e estava mais viva (eu sentia-me mais vivo!)... dela vinha um calor confortável que fazia com que o acordar fosse sereno como um sonho sem memória... sentia-me a acordar.


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música: Portishead - Wandering Star
pensamento: preso no sonho

Æmitis :: 01:39 :::

 

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