terça-feira, setembro 23, 2003
Memória Recorrente
Lembro-me de ver uns desenhos animados onde uma das personagens passou todo o episódio a tentar entrar para dentro do seu próprio umbigo. A minha inocência e imaturidade levaram-me a considerar aquele acto como uma simples insanidade "cartoonesca" como tantas outras e sem qualquer significado senão o de criar o absurdo, o ridículo e assim divertir. Hoje, depois de percorridos alguns passos na linha do tempo, aquela imagem de uma infância de olhar fixo no ecrã provoca-me uma torrente de pensamentos e assume um significado mais profundo e relevante que o de uma simples gargalhada. Ingénuamente não conseguira notar a força que tem a imagem de alguém a quere penetrar no seu próprio umbigo, a vontade desesperada de regressar ao útero, à caverna segura e intransponível onde o desconhecimento de tudo era o contacto com a paz, a tranquilidade e sossego do não saber que se é e se pode ser. O silêncio morre com o nascimento. O choro de um novo ser é o grito da morte. Há uma Pessoa que descobriu que esta dualidade vida/morte está invertida na nossa percepção ignorante e arrogante... nunca o absurdo se tornou tão claro e racional.
E assim, com este aparentemente inocente resto de infância a minha espiral de reflexão avançou mais um pouco. Espero que pelas suas paredes consiga absorver o que me irá fazer mover...viver...
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música: Neurosis - Crawl Back In
pensamento: se pudesse escolher nascer de novo, será que o faria?
Æmitis :: 01:30 :::