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sexta-feira, setembro 26, 2003

O Homem A Quem Os Cães Ladravam


Houve, nesses fios de tempo e rotina que por vezes se quebram, um homem que vagueava entre as vidas de todos os outros. Não se sabia que sombra era a dele. Raras eram as pessoas cujo o seu olhar se prendia na sua forma. Tinha uma presença tão etérea que começou a acreditar profundamente que não existia. Se todo o mundo não notava o seu odor, a sua aparência, o seu tom, então seria porque a sua existência era um lapso, uma falha que o mundo estranhamente tinha permitido existir. Com o passar dos dias, das horas e dos passos, o olhar deste homem foi perdendo o brilho. A sua memória era incapaz de recordar as últimas lágrimas alguma vez vertidas. Mas os momentos de dor e solidão, esses eram constantemente invocados pela mente traidora. Porém a sua aparição neste mundo não era completamente ignorada. Com excepção do comerciante da esquina de sua casa, com quem falava por telefone somente para fazer as compras necessárias, havia um fenómeno que colocavam a sua inexistência em causa: os cães. Sempre que se cruzava com um destes animais domesticados o seu coração acelerava e o seu corpo tremia descontroladamente. Não havia um único destes seres que não ladrava na sua presença. Todos eles pressentiam a sua chegada, permanência e partida. Embora nem sempre fixassem o seu olhar nele, os cães da rua conheciam-no como ninguém. Como ninguém. Esta incerteza, esta dúvida torturavam-no persistentemente, como uma dor crónica e hereditária.
No seu mundo de solidão dedicara-se ao pensamento abstracto, à leitura e à meditação. E assim, em cada pulsar mental, aumentava a sua frustração de incompreensão.
Todos os livros estavam lidos. Todas as ideias saturadas até à sua rejeição. Os anos, os meses continuavam a passar. Ninguém o via como os cães. Ninguém o via. O ponto de ruptura chegou naturalmente, como o nascer do sol depois do manto de lua... A corda tocava-lhe o pescoço como um língua àspera e seca. Este seria o seu último passo. Era só mais um passo que ninguém viria. A corda do comerciante da esquina estava cirurgicamente presa do tecto, a hipótese de erro era intolerável. A sua sala engolida na escuridão, abraçava-o docemente. O relógio contava os segundos mas não tinha importância alguma. As décadas, os anos estavam no seu fim.
Um passo.
Um som abafado da corda que não cede.
O corpo rendeu-se à gravidade.
O ar era rejeitado...odiado até.
Num último olhar, fugido da face que escurecia, fixou-se no espelho quebrado que pintava o chão. Algo de estranho acontecia. O reflexo do espelho era somente da sala e da corda oscilante.
Não era a sua existência que escapava aos outros olhos, às outras almas, mas sim a sua imagem... somente a sua imagem...
O sossego no seu interior era religioso... O mistério pessoal, o fantasma de tantas noites tinha sido revelado e libertado.
Suspenso e livre!
Soltou-se uma lágrima...


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música: The Blueprint - Hail Of Splinters
pensamento: alguém me vê? eu vejo.

Æmitis :: 23:14 :::

 

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