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quarta-feira, setembro 03, 2003

Reflexo Sem Espelho


Num destes dias chuvosos, de um Verão que não se esquece, aconteceu algo verdadeiramente extraordinário, algo que lido, visto e até audazmente imaginado pode reflectir uma imagem surreal e até de uma qualquer patologia mental. O dia, como disse, era de chuva. As ruas estavam molhadas e aparentemente limpas, como se o céu tivesse descido para arrumar a cidade. No chão, o cinzento das nuvens misturava-se com o negro do alcatrão e nos passeios as pedras respiravam de alívio.
Absorvido por este ambiente, encontrava-me parado no meio da rua deserta. Deserta para mim, pois naquele momento tudo desapareceu e apenas a minha pulsação marcava o ritmo do mundo. Diante de mim, caído no chão como um pedaço de papel indesejado, estava o meu olho direito. Não podia ser real o que estava a acontecer naquele momento. Era impossí­vel que tal acontecesse de forma tão natural. O meu olho direito tinha-se soltado da minha órbita, desprendido-se do meu corpo, assim como a folha seca se solta dos ramos cansados. Apressei-me a pegar nele para que não se danificasse, para senti-lo como algo corpóreo. Neste momento tinha duas percepções visuais diferentes, pois continuava a receber a informação do meu olho caí­do. Isto provocou-me uma enorme tontura e o meu balanço oscilou. Podia neste momento ver o meu olho e ver-me a olhar para o meu olho. O esforço mental para captar esta nova forma de percepção era enorme e a juntar-se à tontura emergiu uma aguda dor. Tentei colocar o olho de volta na órbita, com imenso esforço, mas este não se fixava no espaço agora vazio. Senti o pânico a crescer. Não sei se estava realmente assustado por ter perdido uma vista ou pela surrealidade e incompreensão de todo o acontecimento.
Segurei o olho a nível da minha órbita direita para assim conseguir mover-me minimamente. Segui até casa, entrei no meu quarto, sentei-me na cama a pousei o olho na mesa que estava na minha frente. Fechei o olho esquerdo... respirei prfundamente... e pela primeira vez consegui olhar para mim próprio. Verdadeiramente olhar para mim próprio. Não apenas um reflexo ou uma imagem num qualquer papel ou ecrã. Era a minha aparição real, com textura, cor e movimento. Aproximei-me para poder ver-me mais perto. Estava absorvido naquela experiência... Acho que permaneci assim durante dias, examinando cuidadosamente todos os traços, todas as linhas do meu corpo. Finalmente conhecia-me. Aquele pavor silenciado do desconhecimento de mim prório, que habitava no profundo fundo de mim, desvaneceu... eu conheci-me.
No dia seguinte a chuva tinha cessado. As nuvens estavam mais leves e o ar mais solto. Sentia-se no ar um suave aroma a rochas húmidas de um riacho isolado. O meu olho tinha regressado. Em mim algo havia mudado... os tons haviam ficado melhor definidos... a pulsação ecoava como música e estava mais viva (eu sentia-me mais vivo!)... dela vinha um calor confortável que fazia com que o acordar fosse sereno como um sonho sem memória... sentia-me a acordar.


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música: Portishead - Wandering Star
pensamento: preso no sonho

Æmitis :: 01:39 :::

 

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