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domingo, dezembro 10, 2006

Quarto Alugado


O quarto estava cheio de folhas secas. Amarelas, castanhas e vermelhas. Poucas eram as que permaneciam inteiras. Espalhadas pelo chão, entre os outros destroços, desfeitas em mil pedaços ou desfiguradas pela queda. As janelas solidamente fechadas e a porta inexistente tornavam aquele quarto um repouso absoluto. Não eram mais que rascunhos. Ideias interrompidas num entardecer qualquer, enquanto ainda restava luz. Tinta negra que trespassava as folhas, palavras ocas que não chegavam a tocar-te a pele. Às que tinham apenas uma palavra, chamava-lhes solitárias. Eram frequentemente terminadas por um borrão sangrado. Outras eram apenas manchas, riscos que se confundiam com sujidade e que encontravam neste chão, e nos meus escurecidos pés, o seu eterno sossego.

O quarto estava cheio de água luzidia. Não era doce, nem salgada. Os seus tons variavam com as nuvens que se moviam pelo tecto e com a intensidade do candeeiro. Nos dias mais tempestuosos, era possível ouvir-se o sibilar marítimo de temor. Os rodapés minuciosamente isolados e as paredes matematicamente construídas certificavam-se que nenhuma das gotas pudesse sair. As janelas estavam muito acima do nível da água. Todas as gotas estavam seguras. Os meus pés inundados, constantemente enregelados, pareciam-me assustadoramente pálidos. Para me entreter, tentava mexer cada um dos dedos isoladamente. Do mindinho ao grande. Depois de algumas semanas já os conseguia fazer serpentear, em ambos sentidos, como um piano mudo. A água chegara de rios desviados, oceanos remotos, canos terminados, lagoas secretas, poças momentâneas, mares explorados, lágrimas soltas, chuvas férteis e de outros destinos incertos. Era uma parte do todo e fazia parte de tudo. Encontrava neste chão um solitário sossego.

O quarto estava cheio de erva verdejante. Militarmente alinhada, cobria todo o chão como um tapete feito de muitas camadas de linhas, mas dispostas em filas. Tinha crescido com força, sedenta de luz e de vida. Bebeu a água penetrante e escapou à escuridão da terra, voando até ao azul. Sempre mais acima, sempre. Quando cresceu o mais que podia, nunca descansando, criou-se. As janelas abertas deixavam o vento entrar. Era a sua música. Todos os dias ondulava em simultâneo, numa coreografia de admirável coordenação e vivacidade. Eu dançava também. Atirava os pés para o ar e todo o corpo os seguia. Depois, caía amparado pela vigorosa erva, que nunca se quebrava. Quando pisada, dobrava-se sobre si mesma, com invejável flexibilidade, e erguia-se novamente, mais determinada. Eu saltava todos dias até ficar exausto. Durante as noites frescas, deixava-me entrar um pouco mais e cobria-me os braços e as pernas. Um pequeno tufo juntava-se à minha cabeça, brincando de almofada. Encontrava neste chão, um amigo.


O quarto estava cheio de areia fina. Eram apêndices rochosos com a mais ínfima dimensão, mesmo antes de se tornarem em pó. Tinham cores imperceptíveis. Os pequenos montes que se juntavam nos quatro cantos do quarto mudavam de tonalidade de acordo com o ângulo em quem me colocava e com que o tórrido sol penetrava pelas janelas. Enterrava os pés na areia e sentia-me parte dela. Quis que me engolisse, mas cada um dos pequenos grãos sempre permanecia inerte. Desconheciam por completo a existência alheia. Depois de viajarem em botas de aventureiros, em bolsos de crianças, cabelos de amantes e na pele endurecida de pescadores, encontraram neste chão o seu eterno desassossego. O tempo virá para inverter o quarto.







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música: Songs: Ohia
pensamento: milhares de cores

Æmitis :: 12:41 :::

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