quinta-feira, agosto 18, 2005
Levantar Vôo A Rastejar
Há dias de céus cheios que transbordam até ao asfalto. Pequenas nuvens rasgadas circundam-te os passos e refrescam-te as pernas, nuas. Andas no teu lado reservado, impedindo que toda a ordem natural se inverta se tal não acontecer. Olhas para o outro risco horizontal que ninguém vê - aquele pintado de imberbe azul e que se oferece nas viagens de regresso a casa e nas tardes antecipadas.
Gestos desiguais e dois ou três que me parecem humanos. A consciente decisão de sucumbir em imersão no rasto do teu perfume é-me tão insuportável quanto inevitável. Sei que irás brincar inocentemente com uma agulha no centro da minha testa, picando-me só o suficiente e nunca o bastante. Eu irei mover-me para te beijar.
Depois, quando já não estivermos sós e o teu cabelo cair por completo, o vento irá destruir-nos as asas negras. Ficaremos sem a elegância nocturna com que passeávamos pelas varandas, com que nos atirávamos de cada uma. Não teremos mais silêncios, pois nada mais haverá que o silêncio. Vais desviar o olhar e queimar papel com tinta que enegrece o fogo. Vais virar as costas, quase saradas, e eu vou dormir de barriga para baixo, quase sarado. Há dias em que o céu cai, como folhas outonais, sempre que respiramos.
............::::::::::::::::::::::::::::::::::::
música: Mono - Error #9
pensamento: afinal não eras tu
Æmitis :: 03:58 :::
Comentários:
Enviar um comentário