sábado, julho 02, 2005
Uma Cadeira Vazia Entre Capítulos
A colher usada pousa no pires deixando uma mancha de escuro líquido. “É sempre uma possibilidade”, disseste olhando para a espuma que ainda se revolvia na chávena. Era um fim de tarde de vento, papéis, sacos e poeira, mas o teu cabelo parecia estar protegido por um elmo invisível. Estavas serena e os teus lábios, os teus lábios pulsavam em cada palavra e em cada sorriso. Havia pessoas que tropeçavam nas fendas no chão, corpos que se partiam espontaneamente e postes de electricidade que caiam em cima dos automóveis em movimento, mas tu, tu bebias o teu café diário que me acompanhava.
Não sei o que me fez ousar ordenar as palavras desta forma e arriscar a sugestão. Talvez as sessões de terapia com gente deformada ou talvez uma qualquer tragédia romântica apanhada em insónia. Ensaios mentais quase obsessivos não conseguiram prever a provocadora resposta, o deslizar de olhar e a ténue forma como mordeste o lábio inferior. Queria roubar-te ao mundo naquele preciso instante, mas limitei-me a encolher os dedos dos pés e a sorrir com todas as veias.
“Para onde vamos agora?”, perguntei enquanto olhavas para as minhas mãos perdidas pela mesa, juntamente com o cinzeiro, os guardanapos, as moedas e o que sobrava de mim. Inclinaste a cabeça para trás, olhaste as nuvens que te refrescavam os olhos e depois desapareceste... e eu fui contigo.
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música: Pelican - Sirius
pensamento: sinto que estás desse lado... poderei não voltar aqui.
Æmitis :: 23:04 :::
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