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domingo, maio 29, 2005

Mão Morta


Quis andar um dia inteiro com a mão direita colada à testa. Não estaria com cola ou qualquer outro artifício que não a minha própria vontade. Andava assim na rua, no autocarro, no metro, entrava e saía da faculdade e depois voltava a casa, repetindo todo o trajecto mais uma vez, assim, com a mão direita colada à testa. Aqueles que passavam por mim e conseguiam descortinar algo de estranho na postura que assumi paravam, analisavam durante alguns segundos e colocavam também a mão direita na testa. Seria um entendimento tácito, senão mesmo telepático, que aquele seria o procedimento correcto. Seria o profeta do banal, o homem dos gestos poéticos, o criador da epifania corporal.
Pouco a pouco, passados alguns dias, seriam mais aqueles com a mão direita na testa que os outros, os tolos, convencidos que duas mãos livres servem de muito nos dias de hoje. Organizavam-se convenções para tentar conhecer este fenómeno, estudavam-se as suas causas e repercussões, o seu impacto na vida pessoal e social, escreviam-se monografias. Ninguém poderia bater palmas porque apenas uma das mãos estaria livre, então, surgiriam novas formas de congratulação, como vénias, assobios ou o bater dos pés no chão com uma determinada sequência e intensidade. O vestuário seria alterado pois seria impossível vestir as camisolas no seu formato actual, estando a mão direita na testa e o braço dobrado. Seria um estímulo imenso à criatividade e todo o mundo pulsaria frenético, uma vez mais, com ânimo e entusiasmo. Esqueciam-se conflitos mesquinhos e desavenças fúteis ao propagar-se a união comportamental. Muitas das acções quotidianas, como comer ou lavar a cara, teriam uma maior dificuldade exigindo uma maior solidariedade entre todos. Os laços humanos seriam fortalecidos e as relações fomentadas em larga escala.
Mas tal não aconteceu... saí à rua e todos olharam-me com estupefacção e depois riram-se. Riram-se desmesuradamente – exageradamente, creio. Rebolaram pelo chão, choraram e alguns chegaram mesmo a desmaiar por falta de oxigénio. Subi as escadas a correr, entrei no quarto e engoli de uma só vez a minha mão direita. Amanhã compro uma prótese.


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música: Cult Of Luna - Dark Side Of The Sun
pensamento: em alternativa à parvoíce

Æmitis :: 02:15 :::

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