domingo, abril 03, 2005
Diagnose? De Nada.
Sou psicossomático e não sei porque me deram alta. Uma troca casual de ficheiros com um regenerado veterano de sossego ou com um qualquer caso terminal de vida em excesso e aqui me encontro eu, soltando golfadas de cinismo pela boca. Penso constantemente em ter uma doença que me incapacite e vivo com esse temor. Tumor? Fico ocasionalmente doente e os efeitos secundários prolongam-se durante meses. Não me injecto com químicos nem inspiro pós até ganhar a inconsciência. Não há compressas, cateteres, ligaduras, éter, nada. Este desdém centrípeto faz-me tecer choros. O pranto vergonhoso de um funeral equivocado. Serei campa vazia de flores em plástico. O toque eterno do místico vácuo existencial. Voilà. Gastronomia teórica para hospitais metafísicos. Hora da refeição. Parágrafo.
Na ala a sul de tudo o resto o sono tarda em escorrer. E os ossos doem. Como doem... Sou artesão de traumas. Doutor, prescreva-me um termo científico. Serei o propósito das metáforas pálidas experimentais. Simular semelhante fenómeno seria arriscado. Inverter processos e partir vidros. Convenço-o a não prosseguir, a não proceder. Tenho a desilusão de ser filho único de um ventre retalhado. Uma cesariana de paranóia social. Falta-lhe Rousseau. Falta-me paz. Sei que não devo, mas posso e consigo. Eis fraqueza. O império moral em nada imperativo. Falta-me Kant. Hora da medicação. Parágrafo.
Amanhã vou acordar-me.
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música: Logh - The Passage
pensamento: de saída
Æmitis :: 04:35 :::
Comentários:
A paz encontra-se na equação mais simples. E também mais dolorosa... mas se assim não fosse não seria paz.
(Ou eu não sei o que digo e o que escrevo. Que também é válido. E, no fundo, não sei mesmo.)
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(Ou eu não sei o que digo e o que escrevo. Que também é válido. E, no fundo, não sei mesmo.)