quarta-feira, novembro 24, 2004
Entre Anestesias
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Dois altos no braço de desconhecida origem. Sei que vou morrer. Todos morremos? Eu não... eu não morria até agora. Era eu e vivia, não pensava no resto. Via o fim, conhecia-o até... mas não pensava nele. Agora morro. Morro e acabo. Prega-se de um lado, do outro, enterra-se e ergue-se uma pedra. Morro. Passado algum tempo limpam-se as flores secas, as ervas daninhas e os sacos de plástico que o vento trouxe. Continuo morto. Quero que me comam o esqueleto também. Podes tratar disso?
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Estou dependente desse cateter. Não planeei isto... não sou assim tão mórbido, nem cínico. O que entra? Algo que não quero descobrir. Podes limpar a ferida?
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Hoje acordei bem disposto. Abracei-te, contei-te o que sonhei, elogiei o teu cabelo, a tua camisola e até a tua pele. Hoje acordei com sol e com silêncio. Aconcheguei a roupa da cama, alinhei os chinelos, mudei de página e até virei a almofada ao contrário. Hoje não tive dores. Andei um pouco, cumprimentei com quem me cruzei, apanhei ar fresco e vesti um casaco. Quando puder regresso a casa, por enquanto, deixo-me ficar nesta ala. Três visitas de cada vez. Não te esqueças. Da próxima vez diz à marcha fúnebre para esperar lá fora.
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Amarraram-me à cama... eu só queria arrancar o resto da pele. De que me serve ter um lado da cara coberto quando tudo o resto está exposto? Sujo almofada... apenas isso. Que se lixe... amanhã dão-me alta e já posso fazer o que bem entender. Também quero tomar mais medicamentos.
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Tomaste nota de tudo?
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música: Portishead - Roads
pensamento: lista de espera
Æmitis :: 22:20 :::
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