quarta-feira, agosto 18, 2004
Distância De Insegurança
Tenho o sorriso e o discurso de um poeta que entrou em ruptura com o mundo e tu ainda me compreendes. Começo a pensar que apenas o dizes para me sossegar ou por hábito só. Quero testar-te. Concentro-me e digo algo completamente inesperado e descontrolado, mas de forma diferente do habitual. Desta vez não só não tremi como evitei as metáforas, as antíteses, as analogias, os substantivos, os advérbios, os adjectivos, tudo… e usei somente verbos. E tu ainda me compreendeste.
Tentei de outra forma. Peguei em todas as palavras que moldavam o meu pensamento, os sonhos da noite passada, os segredos que recuso dizer-me e coloquei-as todas dentro de uma esfera de vidro, como num sorteio qualquer. Retirei-as, uma a uma, e construí uma frase pela ordem de saída, sem pontuação. Depois, li-te a frase de trás para a frente e num sussurro mínimo. E tu ainda me compreendeste.
Não suportava ter-te tão perto. Cortei a língua e os braços. Era impossível comunicar devidamente assim. As palavras apenas rondavam-me a mente e não saíam para o exterior. Finalmente, consegui fazer com que não me compreendesses. Mas tu olhaste-me nos olhos e sorriste…
Plantaste a árvore e ataste o nó na corda feita de cabelos teus, caídos ao longo dos anos. Enforquei-me ao meio-dia, como num duelo empoeirado sem ninguém presente.
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música: Neurosis - The Road To Sovereignty
pensamento: "bang bang, you shot me down"
Æmitis :: 06:15 :::
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