terça-feira, junho 08, 2004
Deslize Branco
Agora o tempo parou. Nunca a minha presença, o eu em mim, teve uma claridade como esta. Conseguiria iluminar milhares de planetas neste estado. Seria fonte e destruição. Mas sou apenas eu... e olho para dentro. Contemplo mais que uma paisagem de estranhos contornos de enegrecidas árvores. A onda de fogo não trouxe só incineração. Trouxe regeneração. É neste local que permaneço. Afinal, o tempo parou e não tenho para onde ir... nem quero.
Espero. Repito. Algo não está correcto. Estou desfocado. Isto é mais que dúvidas.
Perdi-me naquele efémero momento. Efémero?
Trouxe-te um caixão. Estranho presente. Vi-o à beira da estrada de traços distorcidos e pareceu-me ter a tua cor. Não precisas descansar já. Espera mais um pouco. Quero despedir-me. Agora que segues fora de mim, quero aconselhar-te para teres as armas com que lutar, quero acariciar-te para teres a armadura com que te defenderes, quero beijar-te para me sentires pela última vez.
Desculpa mas não te posso levar. Ainda tenho que encontrar o sangue que perdi enquanto me despia à tua frente.
Adeus.
Perdi-me naquele perpétuo momento. Perpétuo?
Um corvo de penas brancas. Por onde andaste? Vens sujo... mas nunca voaste tão perfeitamente. Se não te conhecesse ter-te-ia confundido com fumo e com ar. Podes regressar. Sou teu de novo. Talvez agora possamos continuar a escrever as pequenas histórias que não se recordam e não se relêem. Apenas se escrevem. E crescem. Fora de si e fora de todos.
Fico feliz por te ver. Mesmo que não tenha sentido a tua falta, sempre precisei da tua presença. Lembras-te onde ficámos? No início?
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música: Radiohead - The Gloaming
pensamento: não há imagem como a insanidade
Æmitis :: 01:51 :::
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